Até 2011, reinou no País uma profunda incompreensão oficial sobre a
educação de surdos, desconsiderando os direitos constitucionais dessa
minoria linguística. Com a fórmula abstrata e, portanto, extremamente
violenta de que as crianças com deficiência, independente de suas reais
diferenças, deveriam estar nas chamadas escolas regulares, fecharam-se
centenas de classes para surdos, que foram então isolados uns dos outros
numa miríade de escolas lusófonas. Minaram, assim, o desenvolvimento da
identidade linguística, cultural e política das comunidades surdas e,
portanto, as possibilidades de seu protagonismo, seu empoderamento e sua
autonomia, em claro desrespeito à Convenção dos Direitos da Pessoa com
Deficiência.
Mas a comunidade surda cearense
conseguiu durante esses maus dias manter e ampliar seus direitos
educacionais. A Seduc assegurou a continuidade e a ampliação ao ensino
médio da oferta escolar do Instituto Cearense de Educação de Surdos. A
Secretaria Municipal de Educação (SME) e a Seduc mantiveram seus
convênios com o Instituto Filippo Smaldone, com o compromisso desta
última de apoiar sua expansão até o 9º ano. Hoje, dos poucos mais de 900
alunos surdos de Fortaleza, mais de 700 estudam, por suas escolhas e de
suas famílias, nessas escolas bilíngues.
Com base no Decreto
7611 de novembro de 2011, que confirmou o 5626/2005 como referência
legal da educação de surdos, o Conselho Estadual de Educação, em recente
resolução, regulamentou escolas e classes bilíngues para surdos. A
Seduc, na portaria de matrícula para o ano letivo de 2012, fez o mesmo.
Também
neste ano a Escola Estadual Joaquim Nogueira começa a oferecer para
surdos o curso técnico de instrutor de libras, integrado ao ensino
médio. É a primeira iniciativa desse tipo no Brasil, devendo logo ser
seguida pelo Instituto Federal de Santa Catarina, no campus bilíngue de
Palhoça.
E em Fortaleza formou-se um grupo de trabalho na
SME, com a participação da comunidade surda, para a organização de uma
escola municipal bilíngue para surdos. As discussões estão avançadas e a
escola está já em processo de criação, com funcionamento previsto ainda
para este ano letivo.
As secretarias do Interior ainda
precisam tomar iniciativas em conformidade com essas. Há muito a ser
conquistado. Mas em 2012, quando comemoramos o aniversário de 10 anos da
Lei da Libras, os surdos cearenses terão algo a comemorar: na terra de
Frei Tito, a intolerância não vingou.
Emiliano Aquino
emiliano.aquino@yahoo.com.br Doutor em Filosofia e pai de surdo
Fonte: Jornal O Povo